quinta-feira, 12 de junho de 2008

Garçonete por um dia - Parte I



Por mais qualificado que você seja em seu país, com um student visa e permissão de trabalho part-time, há poucas escolhas em Londres. Você pode ser garçonete, babá, atendente de supermercado ou, no máximo, professora de português de alguma escola falida. Com o tempo, você até pode conseguir alguma coisa melhor, principalmente se já fala inglês bem, mas, no começo, as coisas são difíceis.

Marinheira de primeiríssima viagem, cheguei a Londres numa segunda-feira, entrei num site de empregos indicado por uma colega e saí disparando currículos. A segunda e a terça foram assim. Na quarta-feira, começaram a surgir respostas e foram tantas, que até fiquei perdida. Quatro entrevistas só na quarta e meu primeiro trial-shift (você trabalha um dia de graça para eles avaliarem como se sai) marcado para quinta. Que felicidade!

O restaurante ficava um pouco distante, mas eu ja tinha andado tanto naqueles dias (e me perdido também), que nem me importei. Chegando lá, fui recebida por três brasileiros (brasileiros brotam aos milhares por aqui, em todo lugar que você vai). Um pessoal frio, gente meio estranha. Havia em torno de seis garçonetes e cinco bar-men. Um moco de Taiwan apelidado "China" também estava fazendo o teste. Henrich, um bar-man loirinho e pálido, com cara de polonês, foi incumbido de nos mostrar todo o "restaurante" tailandês. Na entrada, bem inocente, mesinhas de madeira, paredes de vidro e um bar muito bonito. Decoração oriental. À esquerda, uma sala escura, cheia de almofadas e mesas no chão. Tudo cheio de brilhos, bordados e panos.

Mais ao fundo, descemos uma escada que dava para um espaços com mais mesas e outra escada. Nas catacumbas do tal "bar and kitchen", deparei-me com um espaço um tanto curioso, que até então só tinha visto em filmes ou na novela das oito: um salão todo vermelho, pedrinhas penduradas, luzes coloridas e, ao fundo, um palco com um "queijo" (e isso mesmo que você está pensando: como o da Alzira do Juvenal Antena). Foi quando Henrich ordenou: "Volte, as moças sérias não precisam conhecer daqui para adiante". Saaaaais mineraaaaais!!

Obedeci. Subi e encontrei Karate, a garçonete coreana, a minha espera. Colocou-me um avental preto imundo que mal cabia de tão comprido. Eu tropeçava toda hora. Comecei a ajudar a garçonete brasileira a acender umas mil velinhas. Eram cinco da tarde e os clientes começariam a chegar. Velas por toda parte, meus dedos queimados por toda parte, e a manager me chamou:

_Sua função hoje será retirar os copos vazios das mesas.

E foi assim a noite toda. Até agora, uma semana depois, me pego falando sozinha: "Excuse me, can I take your glass?". E fui um sucesso total! Aprendi a segurar a bandeija com altivez (a bandeira, eu ja era especialista) e sai toda diva, sorrindo e tirando os copos sujos. Tanto talento que até ganhei uma gorjeta de 5 pounds. Neste dia, os clientes so ficavam nas mesas de cima.

Entendi que aquele que parecia similar ao antigo negócio do Jojo (Duas Caras aqui novamente) não funcionava às quintas, mas apenas nos finais de semana. No entanto, às 22h00 em ponto, algo inesperado...

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