quinta-feira, 2 de outubro de 2008

As cantoras de hino




Sempre que se fala em infância, milhares de coisas vêm à nossa mente...cheiros, brinquedos, gostos, sensações das mais diversas. Os micos também fazem parte dessa época. Estava outro dia lembrando de alguns deles...

Eu e minha irmã temos uma diferença muito pequena de idade. Sou a mais velha, mas ela nasceu pouco antes de eu completar um ano, ou seja: ficamos 11 dias com a mesma idade...Somos completamente diferentes. E desde pequena ela sempre se ferrava (que dó!). Eu sempre queria brincar com a minha prima, que tinha um jeito mais parecido com o meu. Ela sempre ficava com os piores brinquedos, a pior piscina ( a que ficava sempre gelada) e ainda tinha que brincar com o irmão da nossa prima (de casinha é que num era!)... Nem preciso dizer que era a maior briga. Ela me defendia dos meninos na escola 'tacando' a lancheira na cabeça deles, mas como eu sempre ía pra diretoria junto com ela, queria era matar a coitada depois que chegava em casa...

Nosso pai tinha uma educação peculiar: nunca encostou um dedo na gente, mas tooooda vez que brigávamos, mandava as duas pro banheiro e fazia cantar o Hino Nacional!!! Saaaais mineraaais!!! Era o maior micoooo...ficava a rua inteira na sala esperando gente cantar o hino e sair do castigo! Eu preferia mil vezes que ele me desse um tapa, porque passava mais rápido, mas a vergonha de cantar o hino na frente de todo mundo era muito pior! Nós duas éramos o comentário da rua... ficava todo mundo esperando ele chamar:

_Genteeee! A Frô brigou com a Gi de novo!!!!

De repente, a sala da minha casa era invadida pelos meus primos, vizinhos e até amigos desses que eu nunca tinha visto antes!

Mas o pior é que, com o tempo, nosso pai foi ficando mais criativo: tínhamos que cantar o Hino à Bandeira, da Proclamação da República, da Independência, de São Paulo, de Osasco e por aí vai... Deu um trabalhão pra decorar tudo isso (até porque, se cantássemos uma estrofe ou uma mera palavra errada, ficávamos mais tempo no banheiro). E a nossa fama foi ganhando a vizinhança, o bairro, a escola!!!!!!! Imaginaaaaaa todo mundo apontando pra gente e falando:
_Canta o hino pra gente ouvir! Se num cantar a gente fala pro seu pai que você bateu na sua irmã!
Argrrrrrrrrrrr que raivaaaaaaa!

Já a minha avó, tinha outro método para conter os ânimos da criançada: toda vez que algum dos seus sete netos brigava ela dizia com aquele olhar fulminante:

_ Você não vai ganhar o 'disco da batatinha'!

Era o maior berreiro...todo mundo queria o tal disco (a gente nem sabia o que era essa tal batatinha, mas chorava tantoooo).
Sei lá o que eu imaginava que fosse essa batatinha... uma cantora famosíssima, uma espécie de ET que desceria do céu numa nave que parecia uma batata gigante (sério, a gente viajava!).

O meu trauma de infância foi crescer e descobrir que a batatinha sequer existiu (a não ser na mente fértil da minha avó). Quantas lágrimas eu derrubei em vão! Saaaaais minerais!

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